sexta-feira, 24 de abril de 2015

O PODER DAS EMOÇÕES “RUINS”

É isso mesmo. Sentimentos como raiva, revolta, indignação, são poderosos e têm um grande potencial transformador. E sim, BENÉFICO!


Vivemos numa cultura que aplaude a atitude da ovelha e repudia a atitude do leão, e por isso condenamos nossas emoções e as escondemos ou reprimimos, ao invés de aprender a lidar com elas. Essa é uma fórmula de autoboicote também. O “X” da questão não é o sentimento, mas o que fazemos com ele. E, como não aprendemos jamais o que fazer com os sentimentos “feios”, geralmente fazemos grandes burradas, pois, seja
escondendo, reprimindo ou extravasando, estamos sujeitos ao seu domínio e não somos capazes de direcioná-lo.


Um bom exemplo disso são os monges tibetanos, que temos como exemplos de serenidade, mas que são tão humanos quanto nós. Eles não chegam iluminados aos seus monastérios, com “altas patentes” de sabedoria. Eles começam exatamente aprendendo, desde o mais baixo patamar, a lidar consigo mesmo, com seus sentimentos, e a direcionar-se, a desenvolver a lucidez que um dia lhes trará a iluminação. E um belo dia, lá está o aspirante a monge terminando de lavar com uma escova os dez quilômetros de chão do templo, quando chega o bam-bam-bam monástico, olha para sua expressão de cansaço diante daquele salão todo limpo e escovado, e lhe diz que ele é um incompetente, que não serve nem para lavar o chão, e que jamais conseguirá alçar as grandes responsabilidades de um mestre. É claro que ele fica com raiva, com a mesma raiva que todo ser humano sente ao ser subestimado e ao ver seu esforço ser tripudiado. E isso se repetirá algumas ou muitas vezes. Mas ele não pode mandar o mestre tomar naquele lugar, nem lhe dar um soco no nariz, nem se vingar dele. Ele terá de aprender o que fazer com sua raiva para dar o troco naquela situação sem agredir seu mestre. E sentirá essa raiva até transformá-la na força motivadora que ele precisa para sua superação até que, um belo dia, dando o melhor de si para aquilo que está fazendo e jogando toda a sua raiva no escovão com que esfrega impecavelmente o chão, ele verá o mestre chegar ao salão e observar não um semblante de cansaço, mas um semblante de contemplação e de satisfação pelo resultado do esforço que fez. E, então, ele ouvirá do mestre “Eu estava enganado, talvez você sirva para limpar o chão”. Mas neste momento, ele já saberá que sua raiva deve ser usada contra suas limitações e as limitações do cotidiano... E isso o conduzirá ao próximo patamar.


Tem certos momentos em que saber direcionar a raiva, a agressividade, a revolta, pode ser um fator decisivo na determinação de como será o resto da nossa vida. Tem certos momentos em que a atitude de conformismo e passividade da ovelha é um golpe mortal na nossa integridade e no nosso caminho. Não existem sentimentos “maus”, existem más escolhas sobre o que fazer com eles, que podem causar prejuízos aos outros, ao nosso meio e a nós mesmos, mas elas são feitas por nos recusarmos a manejá-los, por não desejarmos nos familiarizar com seus mecanismos e, consequentemente, sermos dominados por eles ao invés de direcioná-los. Sábios monges tibetanos...

Abençoados Sejam!

Corvo negro

sábado, 18 de abril de 2015

A PIZZA DA SUA VIDA

Imagine que, uma vez a cada ciclo de vida que se encerra, a Vida (em pessoa!) convida você para comemorar com uma pizza. Ela vem cortada em vários pedaços, um de cada sabor: relacionamento, saúde, aprendizado, espiritualidade, realizações, conquistas, superações, desenvolvimento... Ela sempre lhe oferece a pizza e fica com um pedaço só – e você tem o direito de saborear todos os outros. Você escolheria apenas um sabor (sempre o mesmo sabor) e deixaria os outros na mesa? Você ficaria lamentando pelo pedaço que a vida comeu e deixaria os outros na mesa?


Mas a gente faz isso, e faz muito, ao longo da vida... Um bom exemplo disso é a importância exacerbada que em algumas fases da vida damos a uma só coisa, seja ela o status, um relacionamento, ou qualquer outra. A gente fica muitas vezes comendo uma só fatia da vida anos a fio, ignorando todos os outros sabores, como se nada importasse no mundo além daquilo, como se fosse a única coisa que a vida tem a oferecer, e se esquece de saborear tantas e tantas coisas que a vida nos dá, imaginando que tudo isso não tem graça nem valor, mesmo sem experimentar. Ou, por outra, ficamos ali, lamentando pelo pedaço que a vida comeu e não quis nos oferecer naquele momento, e deixando apodrecer todos os outros que poderiam nos alimentar porque... Simplesmente porque um pedaço está faltando! Como se uma vida completa não fosse a pizza inteira, mas só aquele pedaço.

Uma vida completa é uma pizza inteira com tantos sabores quanto for possível, com tantas fatias quantas forem imagináveis. Nem sempre a gente tem a pizza inteira, às vezes a vida come um pedaço para nos obrigar a experimentar os outros sabores. Às vezes a gente só come um pedaço a vida inteira e nunca percebe quantas outras possibilidades já temos ali, à mesa, só por termos nascido. A questão é que todos nós queremos uma vida plena, mas dificilmente aceitamos a pizza inteira. Nós só queremos o pedaço que já saturou e viciou nosso paladar, ou então o pedaço que não está disponível no momento. E dispensamos a pizza! E dispensamos a vida!


Parar de experimentar é parar de viver. Alimentar apenas uma centelha da nossa consciência e das nossas possibilidades é recusar-se a viver plenamente. Convido cada um de vocês a olhar para sua pizza – não para o mesmo pedaço, nem para o pedaço que falta, mas para a pizza inteira. E a não se contentar só em olhar... Mas em ceder à curiosidade de saborear cada pedaço!

Abençoados Sejam!

Corvo negro