“o pequeno
passarinho
abre as asas
em seu ninho
mas só
aprende a voar
ao cair e
levantar
– e não para
de tentar”
Inspiração, orientação,
experimentação e avaliação é o cronograma básico do ciclo das experiências na
vida humana. Primeiro, vem a vontade que inspira a ação; em seguida, as idéias
que orientam a ação; depois experimentamos a ação de fato, e então avaliamos a
ação observando suas etapas e seus resultados. Podemos nos comparar, nesta
trajetória, a um passarinho que está sempre saindo do ovo: Esticamos as asas,
percebemos que elas estão ali, sentimos o impulso de nossos próprios instintos,
observamos o vôo dos pássaros adultos e nos sentimos inspirados a criar penas,
fortalecer os músculos e tentar alçar vôo nós mesmos. Então, a mente criativa
traz idéias para orientar a ação, inventa um caminho para chegar ao céu.
Experimentamos este caminho, agimos. E, depois, é hora de avaliar o que
fizemos. Este é um momento crucial. Não podemos nos prender apenas a uma das
etapas deste processo – o fim, o resultado. A avaliação deve levar em
consideração todo o processo, desde o momento inicial – deve levar em conta
todas as ferramentas que possuíamos desde o começo, assim como a capacidade que
tínhamos para manuseá-las naquele momento.
A inspiração, se existiu,
veio de onde?
Da sabedoria do seu coração ou de algum lugar fora de você? De sugestões,
idéias, pensamentos, sentimentos, ou do sopro do seu espírito sábio?
A
orientação que você seguiu realmente era condizente com o objetivo da inspiração?
Houve espaço para você libertar o poder criativo da sua mente ou você seguiu
uma receita já conhecida que o pensamento estava repetindo ao invés de ousar
ser original (ser você mesmo)?
Na
experimentação, você seguiu sua orientação à risca ou se entregou ao medo de
ousar, pegando atalhos já experimentados por outras pessoas, ou mais
semelhantes àquilo que parece seguro, ou desistindo no meio do caminho?
Depois
de responder a estas perguntas, agora sim, posso olhar para o resultado que
obtive e me perguntar: Estou satisfeito com o que fiz? Era este o lugar onde
queria chegar? Consegui um resultado positivo para mim mesmo e para o ambiente
ao meu redor com o meio de ação que escolhi? Era isto mesmo o que eu queria
desde o início? Era isto o que meu coração me pedia?
Se
fizermos estes questionamentos sobre os resultados sem levarmos em consideração
todas as outras etapas e a resposta para eles for negativa, provavelmente
passaremos muito tempo dentro do ovo da frustração, da culpa e do fracasso antes
de reunirmos forças para quebrar novamente a casca e tentar alcançar o céu.
A
primeira coisa que devemos aprender para transformar nossa vida é a ouvir a
inspiração que vem do coração, trazida pela sabedoria do nosso espírito. A
segunda coisa importante é aprender a sermos justos para conosco, não sermos
complacentes demais nem críticos demais. Levarmos em conta tudo o que somos,
tudo o que temos, refletir amplamente observando detalhes, para não deixarmos
passar em branco nossas falhas e sermos capazes de aprender com a
experimentação. Assim como também não devemos ser duros demais para não
criarmos cascas que nos aprisionam no sofrimento, na angústia e na estagnação.
Precisamos
nos observar a cada dia como passarinhos recém saídos do ovo, pois a cada dia
recomeçamos um aprendizado que não tem fim. Se estamos concentrados no
presente, sabemos que o dia de ontem já acabou e que não poderá ser consertado,
remoído ou carregado para sempre em nossas costas. Ele precisa ser deixado para
trás dando lugar às possibilidades que se abrem hoje.
Precisamos
tomar consciência do nosso direito de experimentar, independente dos
resultados. Como espíritos, somos sábios, mas como humanos, somos crianças em
busca de crescimento e desenvolvimento. O passarinho dentro de nós só
conseguirá chegar ao céu, à sua realização pessoal, ao estado de liberdade e
sabedoria, se ele não desistir de tentar. Se não criar uma nova prisão, um novo
“ovo” a cada vez que cair. Para isso, é preciso que estejamos dispostos a olhar
para este passarinho com compaixão e para nossas cascas com dureza. Mas, na
maioria das vezes, fazemos o contrário – somos duros para com o passarinho e
complacentes para com a casca.
Por
quê? Porque não é fácil fazer a mente parar de repetir, ela é teimosa e, quando
se depara com algo que não saiu como gostaríamos, volta a repetir todas as
centenas de críticas e acusações que gravou ao longo da nossa vida. Ela está
sempre disposta a voltar à tona e cortar nossa conexão com a sabedoria do
coração, e isso acontecerá muitas vezes antes de conseguirmos fazer com que ela
cumpra seu papel. Assim como, às vezes, na hora de definirmos nossa orientação,
ela tem preguiça de criar e acaba desenterrando alguma receita velha, gravada
lá atrás no passado, e por fim nos conduz a uma experiência que não nos
gratifica. A mente precisa ser educada dia após dia. A conexão com nossa voz
interior precisa ser fortalecida dia após dia. A avaliação profunda do nosso
ciclo de experiência precisa ser feita dia após dia. Assim como, dia após dia,
precisamos quebrar a casca do ontem e receber a dádiva do hoje com as asas
abertas. E, dia após dia, tomarmos posse da inspiração, criarmos nossa própria
orientação, ousarmos a experimentação e realizarmos uma avaliação sincera e
justa, que nos proporcione aprendizado, liberdade e motivação para prosseguir
ou para tentar mais uma vez.
Ontem,
bati as asas e caí no chão. Que pena! Voltei para o ninho, pensei e vi que
poderia ter pulado bem alto antes, para tomar impulso (Só então eu percebi que
todas as aves fazem isso, poxa! Que distração!). Fui me deitar, dormir,
recuperar minhas forças, esquecer a decepção, superar a dor e, hoje, quem sabe
consigo dar o impulso necessário para alcançar o céu, ou receber uma inspiração
nova que venha a se somar à lição que tive ontem sobre o salto. Hoje é dia de
começar do zero. A única coisa que trago de ontem é aquilo que aprendi com meus
erros, a informação nova que me auxilia. A decepção de ter caído, a dor de
bater no chão, agora fazem parte do passado. Não penso nisso, deixo minha mente
vazia para ouvir a inspiração e para que novas idéias me dêem a orientação de
que preciso.
Cure os
ferimentos do passarinho que caiu ontem e olhe com gratidão para o céu do dia
de hoje.
Abençoados Sejam!