segunda-feira, 13 de outubro de 2014

AUTOESTIMA OU AUTO-IMPORTÂNCIA?

A perda da auto-importância (ou “importância pessoal”) é fundamental para a realização do ser humano, mas confunde-se muito auto-importância com autoestima, então me senti inspirada a escrever sobre as diferenças entre ambas. A autoestima é uma ferramenta para que a auto-importância se torne desnecessária dentro de nós. Ela é como uma alavanca que ajuda a desencrustar a auto-importância do solo da nossa mente.

Autoestima é a noção de nosso próprio valor, reconhecimento que chega através do autoconhecimento, quando conseguimos olhar para nós mesmos, identificar nossas ferramentas internas e nossas limitações, aceitar-nos como somos e reconhecer nossa capacidade como indivíduos, nossa participação em nosso meio, sentindo contentamento pela pessoa que nos tornamos, pelas experiências que temos, pelos dons que desenvolvemos, pelas características que apresentamos, e respeitando nossa individualidade e momento. A autoestima nos coloca como parte de um todo destacando e valorizando aquilo que é único em nós num sentido que se refere mais à utilidade do que à hierarquia, ou seja – ressaltando o que é ímpar em nosso ser como forma de brilhar e contribuir com nosso meio, não de estar acima ou abaixo de outros seres, pois compreendemos através da aceitação da exclusividade de nossa própria identidade que não existem comparativos, muito menos em relação a maior ou menor, superior e inferior (tais comparativos apenas demonstram inconsciência sobre si mesmo e problemas com a autovalorização, já que buscam nos outros a afirmação do que somos e não em nós mesmos). A autoestima nos ajuda a perceber o valor das outras pessoas em nossa vida sem que com isso estejamos nos desvalorizando. Ela nos leva a buscar nosso crescimento através do aprendizado e nos ajuda a criar relações saudáveis com as pessoas e com nosso meio, pois não temos que provar nem exigir, podemos interagir profundamente sem nos sentirmos ofendidos em nossa integridade e valor.

Auto-importância é o olhar hierárquico sobre nós mesmos, colocando acima ou abaixo; e tanto faz se é acima ou abaixo, a auto-importância sempre nos coloca como mais importantes do que todos, seja na posição de privilegiados acima ou de injustiçados abaixo, minando a autoestima e afastando-nos da consciência sobre nós, da responsabilidade sobre nossas vidas e da realização pessoal em qualquer aspecto.

Quando adotamos posturas arrogantes, vaidosas, orgulhosas, de donos da verdade, de superiores, de poderosos, imbatíveis, inatingíveis, ou qualquer outra em que estejamos nos protegendo de um olhar sincero sobre nós e sobre nosso contexto que nos traga o reconhecimento de nosso real valor, é porque a auto-importância está gerenciando nossa forma de viver. Quando adotamos posturas de autocomiseração, autodepreciação, vitimismo, submissão, ou qualquer outra em que estamos fugindo da responsabilidade de assumir quem realmente somos para ganhar privilégios, comodidades, benefícios ou atenção, é também porque a auto-importância está gerenciando nossa forma de viver.

Ao contrário da autoestima, que vem da consciência sobre si mesmo e promove a sensação de integração e contentamento, a auto-importância vem da inconsciência sobre si mesmo ou da covardia em assumir a si mesmo e promove a sensação de isolamento e descontentamento.


Quando a auto-importância se manifesta na hierarquia de superioridade, nos sentimos “especiais demais” para aprender com o outro, para sermos tratados com igualdade, para sermos contestados ou termos nossos caprichos negados. Somos “importantes demais” para reconhecer nossos erros e para aprender a fazer melhor. Para olharmos para nós mesmos e identificarmos aspectos que precisam de lapidação. Para concordar com alguém, para ganhar tal quantia, para não receber atenção especial, para ficar de fora de algo. Queremos tapete vermelho e trombetas, pois acreditamos que é o que merecemos.  Somos os “gurus” de uma humanidade inferior em que não nos encaixamos, pois ela não reconhece nossa supremacia. Constantemente nos sentimos ofendidos com as atitudes dos outros, com suas escolhas, com suas opiniões, pois acreditamos ser o centro do universo e tudo o que todos ao nosso redor pensam e fazem é visando a nós. Isso causa problemas em nossas relações, em nossa forma de nos conectarmos às demais pessoas que nos cercam, em nossa vida social e íntima, traz emoções destrutivas como acessos de orgulho e vaidade, autoritarismo e dificuldade de ouvir e, consequentemente, de aprender e evoluir.

Quando a auto-importância se manifesta na hierarquia de inferioridade, nos sentimos desamparados, fracos, impotentes, acreditamos que estamos sendo castigados, perseguidos, usurpados, humilhados, roubados, e acreditamos que o mundo, as pessoas, a sociedade, nos “deve” algo. Colocamo-nos na posição de quem deve exigir dos outros pois não temos, dentro de nós, os mesmos recursos que todos têm. Somos especiais porque nascemos “sem” e precisamos que as pessoas entendam e aceitem que somos “menos” e dependemos de que os outros se esforcem em nosso lugar, façam por nós, nos deem de bandeja; enfim, esmolamos ou cobramos, pois não queremos aceitar o que realmente somos – isso exigiria sair do cômodo, do confortável, daria trabalho, e merecemos não ter o trabalho que os outros têm para conseguir as vitórias que eles conseguem. Somos “especiais demais” para fazer esforço. Muitas vezes nos sentimos ofendidos com as pessoas porque elas estão nos ignorando, não fazem o que queremos, não pensam nos que nos interessa, não nos dão o suficiente – e elas nunca, jamais nos dão o suficiente, por isso estamos sempre descontentes, e estamos sempre responsabilizando as pessoas, Deus, nosso chefe, nossos pais, ou a sociedade pelos nossos fracassos. E, ao adotar o “coitadinho de mim”, o “eu não consigo”, o “dá tudo errado na minha vida”, o “sou um azarado”, estamos negando o autoconhecimento e a autoestima, negando a descoberta de nossas ferramentas internas e de nosso valor pessoal e social. Pois isso, claro, nos colocaria na posição de responsáveis por nossas escolhas e por nossa felicidade.

Não, auto-importância não é autoestima, ao contrário, está muito longe dela e nos distancia dela na mesma proporção. Não confunda aquilo que lhe mostra seu valor com aquilo que lhe tira seu valor.


Abençoados Sejam!

Nenhum comentário:

Postar um comentário