A perda da
auto-importância (ou “importância pessoal”) é fundamental para a realização do
ser humano, mas confunde-se muito auto-importância com autoestima, então me
senti inspirada a escrever sobre as diferenças entre ambas. A autoestima é uma ferramenta
para que a auto-importância se torne desnecessária dentro de nós. Ela é como
uma alavanca que ajuda a desencrustar a auto-importância do solo da nossa
mente.
Autoestima é a noção de
nosso próprio valor, reconhecimento que chega através do autoconhecimento,
quando conseguimos olhar para nós mesmos, identificar nossas ferramentas
internas e nossas limitações, aceitar-nos como somos e reconhecer nossa
capacidade como indivíduos, nossa participação em nosso meio, sentindo
contentamento pela pessoa que nos tornamos, pelas experiências que temos, pelos
dons que desenvolvemos, pelas características que apresentamos, e respeitando
nossa individualidade e momento. A autoestima nos coloca como parte de um todo
destacando e valorizando aquilo que é único em nós num sentido que se refere
mais à utilidade do que à hierarquia, ou seja – ressaltando o que é ímpar em
nosso ser como forma de brilhar e contribuir com nosso meio, não de estar acima
ou abaixo de outros seres, pois compreendemos através da aceitação da
exclusividade de nossa própria identidade que não existem comparativos, muito
menos em relação a maior ou menor, superior e inferior (tais comparativos
apenas demonstram inconsciência sobre si mesmo e problemas com a
autovalorização, já que buscam nos outros a afirmação do que somos e não em nós
mesmos). A autoestima nos ajuda a perceber o valor das outras pessoas em nossa
vida sem que com isso estejamos nos desvalorizando. Ela nos leva a buscar nosso
crescimento através do aprendizado e nos ajuda a criar relações saudáveis com
as pessoas e com nosso meio, pois não temos que provar nem exigir, podemos
interagir profundamente sem nos sentirmos ofendidos em nossa integridade e
valor.
Auto-importância é o olhar
hierárquico sobre nós mesmos, colocando acima ou abaixo; e tanto faz se é acima
ou abaixo, a auto-importância sempre nos coloca como mais importantes do que
todos, seja na posição de privilegiados acima ou de injustiçados abaixo, minando
a autoestima e afastando-nos da consciência sobre nós, da responsabilidade
sobre nossas vidas e da realização pessoal em qualquer aspecto.
Quando adotamos posturas
arrogantes, vaidosas, orgulhosas, de donos da verdade, de superiores, de
poderosos, imbatíveis, inatingíveis, ou qualquer outra em que estejamos nos
protegendo de um olhar sincero sobre nós e sobre nosso contexto que nos traga o
reconhecimento de nosso real valor, é porque a auto-importância está gerenciando
nossa forma de viver. Quando adotamos posturas de autocomiseração, autodepreciação,
vitimismo, submissão, ou qualquer outra em que estamos fugindo da
responsabilidade de assumir quem realmente somos para ganhar privilégios,
comodidades, benefícios ou atenção, é também porque a auto-importância está
gerenciando nossa forma de viver.
Ao contrário da
autoestima, que vem da consciência sobre si mesmo e promove a sensação de
integração e contentamento, a auto-importância vem da inconsciência sobre si
mesmo ou da covardia em assumir a si mesmo e promove a sensação de isolamento e
descontentamento.
Quando a auto-importância
se manifesta na hierarquia de superioridade, nos sentimos “especiais demais”
para aprender com o outro, para sermos tratados com igualdade, para sermos
contestados ou termos nossos caprichos negados. Somos “importantes demais” para
reconhecer nossos erros e para aprender a fazer melhor. Para olharmos para nós
mesmos e identificarmos aspectos que precisam de lapidação. Para concordar com
alguém, para ganhar tal quantia, para não receber atenção especial, para ficar
de fora de algo. Queremos tapete vermelho e trombetas, pois acreditamos que é o
que merecemos. Somos os “gurus” de uma
humanidade inferior em que não nos encaixamos, pois ela não reconhece nossa
supremacia. Constantemente nos sentimos ofendidos com as atitudes dos outros,
com suas escolhas, com suas opiniões, pois acreditamos ser o centro do universo
e tudo o que todos ao nosso redor pensam e fazem é visando a nós. Isso causa
problemas em nossas relações, em nossa forma de nos conectarmos às demais
pessoas que nos cercam, em nossa vida social e íntima, traz emoções destrutivas
como acessos de orgulho e vaidade, autoritarismo e dificuldade de ouvir e,
consequentemente, de aprender e evoluir.
Quando a auto-importância
se manifesta na hierarquia de inferioridade, nos sentimos desamparados, fracos,
impotentes, acreditamos que estamos sendo castigados, perseguidos, usurpados,
humilhados, roubados, e acreditamos que o mundo, as pessoas, a sociedade, nos “deve”
algo. Colocamo-nos na posição de quem deve exigir dos outros pois não temos,
dentro de nós, os mesmos recursos que todos têm. Somos especiais porque
nascemos “sem” e precisamos que as pessoas entendam e aceitem que somos “menos”
e dependemos de que os outros se esforcem em nosso lugar, façam por nós, nos deem
de bandeja; enfim, esmolamos ou cobramos, pois não queremos aceitar o que
realmente somos – isso exigiria sair do cômodo, do confortável, daria trabalho,
e merecemos não ter o trabalho que os outros têm para conseguir as vitórias que
eles conseguem. Somos “especiais demais” para fazer esforço. Muitas vezes nos
sentimos ofendidos com as pessoas porque elas estão nos ignorando, não fazem o
que queremos, não pensam nos que nos interessa, não nos dão o suficiente – e elas
nunca, jamais nos dão o suficiente, por isso estamos sempre descontentes, e
estamos sempre responsabilizando as pessoas, Deus, nosso chefe, nossos pais, ou
a sociedade pelos nossos fracassos. E, ao adotar o “coitadinho de mim”, o “eu
não consigo”, o “dá tudo errado na minha vida”, o “sou um azarado”, estamos
negando o autoconhecimento e a autoestima, negando a descoberta de nossas
ferramentas internas e de nosso valor pessoal e social. Pois isso, claro, nos
colocaria na posição de responsáveis por nossas escolhas e por nossa
felicidade.
Não, auto-importância não
é autoestima, ao contrário, está muito longe dela e nos distancia dela na mesma
proporção. Não confunda aquilo que lhe mostra seu valor com aquilo que lhe tira
seu valor.
Abençoados Sejam!
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