quinta-feira, 7 de julho de 2016

O QUE FAZ DIFERENÇA É FAZER DIFERENTE

Já faz uns sete anos que eu compro 90% das minhas roupas em brechós, com raras exceções. Encontro coisas lindas, originais, em excelente estado, e muito baratas. Essa é minha forma de não contribuir com o consumismo louco, com a indústria da moda que diz do que eu tenho que gostar (e diz que eu só posso gostar do que ela está fazendo agora), de não precisar trabalhar alucinadamente para comprar minha vestimenta, e poupar minha saúde, meu dinheiro e meu tempo para coisas que tem mais valor do que preço. Sim, isso começou num período em que as finanças eram apertadas, mas quando as vacas voltaram a engordar, eu mantive o hábito de procurar o que preciso primeiro nos brechós. Reutilizar é mais sensato, na minha opinião. Reciclar. Isso também vale para as roupas. E parece que me visto bem, porque quando eu digo isso as pessoas não acreditam. De vez em quando alguma coisa liiiinda me seduz e eu compro. Outras vezes, considero o preço abusivo e faço eu mesma ou então mando fazer, e o preço final cai em 50% ou mais. Não vou pagar preços exorbitantes para manter as chinesas em regime de escravidão.


Há uns oito anos eu deixo a alopatia para ser usada só em último caso – e devo dizer que estou esperando por esse último caso e desde então ele ainda não apareceu – pois eu não concordo com a ingestão de químicos tóxicos como medicamento, não concordo em ingerir paliativos como medicamento, e não quero contribuir com a sujeira da indústria farmacêutica. E, sabe, minha saúde vai cada vez melhor e eu adoeço cada vez menos, e, nas raras vezes em que algo se desequilibra no meu corpo, minhas poções mágicas de ervas medicinais resolvem rápida e eficientemente, sem gastar nada e sem intoxicar o fígado para melhorar o rim. Nesses oito anos, alguns problemas constantes se tornaram apenas lembranças: rinite, gripe, enxaqueca, insônia, asma, dores nos nervos, dentes se perdendo pelo excesso de antibióticos e anti inflamatórios. Isso tudo deixou de existir.


Durante um tempo da minha vida eu tive o privilégio de poder plantar 80% do que eu comia. E adubar com o adubo orgânico que eu mesma produzia. E não me preocupar nem com o preço absurdo da comida nem com a origem dela, nem em saber quantos tóxicos eu estava comendo junto com ela. Já faz bastante tempo, também, que aboli completamente o sazón, o caldo knorr e todos – sim, TODOS! – os temperos industrializados. E, pasmem: descobri que os alimentos tinham seu próprio sabor! E minha comida é aquela que as pessoas comem suspirando, e repetem três vezes e ficam com depressão pós-prato, indignadas porque eu só coloco alho, sal e ervas e tudo fica maravilhoso. Não comer produtos químicos que não deveriam nem chegar perto de um ser vivo também melhorou minha saúde, minha pele, meu cabelo, minhas unhas, meu sono, meu humor, meu paladar. Se isso suja a terra, suja meu corpo. Se adoece animais e plantas, adoece a mim. Ganhei de presente um prato feito com sazón uns meses atrás. Ninguém em casa conseguiu comer, tivemos que jogar fora, pois nada tinha gosto de nada, tudo tinha gosto de sazón, e aquele gosto era horrível, enjoativo, tão completamente artificial que nem de longe lembrava o gosto de comida. Me senti experimentando um produto de limpeza, e me perguntei como eu não percebia isso antes.


Há alguns meses, comecei a me emancipar também em relação aos produtos de higiene e beleza. Sabonete, hidratante, protetor solar, máscara capilar, creme dental. Meus pés, que não tinham solução para aquele nível de ressecamento, nem com o mais super hiper ultra mega power creme hidratante (caríssimo!)ficaram uma seda em três semanas. Minha pele rejuvenesceu cinco anos em dois meses quando eu troquei o Dove pelo meu próprio sabonete artesanal com zero química, e se mantém saudável e hidratada o tempo todo. Minhas rugas diminuíram mais de 60%. Sou a favor de aceitar a velhice, mas quero que ela venha no tempo dela e com saúde e beleza sim. Não tenho nada contra saúde e beleza. Acho que as duas coisas andam juntas, e quero ser uma belíssima senhora de oitenta anos, com uma pele enrugada e saudável e uma boca cheia de dentes. Meus dentes nunca estiveram tão bem, obrigada! Ficam mais limpos, estão mais claros, não quebram mais tão facilmente. Meu cabelo mega comprido quase não tem mais pontas duplas, parou de quebrar, tem brilho próprio e não apresenta o menor sinal de ressecamento. E tudo isso apenas eliminando toda a química. Sem poluir a Terra, sem poluir meu corpo.

O próximo sonho de consumo da minha lista é um terreno. Neste terreno, uma bioconstrução. O projeto inclui fossa ecológica, energia renovável, reaproveitamento de água e de materiais, reflorestamento, permacultura. Quero uma casa que dure bastante, mas que não deixe nenhum vestígio negativo da minha passagem por este planeta. Uma casa que represente minha gratidão por ele, meu respeito, minhas ideias, que represente o mundo com o qual eu sonho – um mundo de equilíbrio, harmonia, beleza. Um mundo em que tudo se renova e nada se extingue. Com pessoas plenas, saudáveis, bonitas. Que precise menos de hospitais e possa investir mais em educação, consciência e alma.


Mas eu sou só uma. Eu não mudo o mundo. Eu apenas contribuo, com a minha contribuição de formiguinha, junto com algumas outras formiguinhas aqui e ali que também querem uma vida mais saudável, num mundo mais saudável. Mas tenho o imenso prazer de ver o formigueiro crescer, pois a minha geração está fazendo com que ele cresça. É claro que não é todo mundo que pode plantar tudo o que come, fazer seus próprios remédios e produtos de higiene, suas roupas, uma casa totalmente ecológica e sustentável. Mas a gente pode começar a valorizar o cara ali do bairro que cultiva e vende verduras orgânicas, a costureira do bairro, o raizeiro, a moça que faz sabonete. A gente pode plantar uma árvore. A gente pode separar o lixo. A gente pode reciclar e reaproveitar dentro do contexto em que estamos inseridos, qualquer que seja ele. A gente pode fazer a diferença fazendo diferente em alguma coisa, qualquer coisa que seja possível. Qualquer coisa que nos faça bem e que faça bem ao mundo em que vivemos. E tudo começa com a gente – amar seu corpo, querer o melhor para ele, não poluir seu organismo: limpar seus hábitos em relação a você mesmo é o que faz com que você passe a querer cuidar da Terra, se preocupar em não intoxicá-la, em não deixá-la envelhecer antes do tempo, não adoecê-la nem agredi-la. Quando você percebe o quanto as indústrias todas estão fazendo isso com você e passa a não aceitar, se recusa a pagar para ser agredido, gradualmente você amplia essa percepção para o seu ambiente e passa a encontrar as maneiras possíveis de não contribuir com essas agressões. Não importa que você seja um só. Não importa que o que você faz é só um pouquinho diante de tanta necessidade. Faça. Faça diferente. Eu agradeço, o planeta agradece, muita gente por aí que você nem conhece agradece, seus filhos e netos agradecerão um dia, e você mesmo vai se agradecer dentro de pouco tempo.


Lara Félix

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