sexta-feira, 26 de setembro de 2014

ENCONTRANDO A SABEDORIA

“a sabedoria é uma corujinha
pia no silêncio, escondidinha
quem está acordado já sabe escutar
quem está dormindo pode despertar”

Não percebemos, mas nossa mente, nosso pensamento, é um gravador que repete tudo o que escuta. Quase tudo o que pensamos involuntariamente ao longo de um dia é a nossa mente repetindo coisas que viu e ouviu – repetindo o passado. Se ela escuta a mesma idéia várias vezes, se registra uma mesma idéia de várias formas ou fontes, vai repeti-la também várias vezes. Se essa idéia vem carregada de emoções e sentimentos despertados em nós quando a recebemos, acaba se tornando determinante na hora de criarmos, de usarmos nosso pensamento voluntariamente. Ela passa a ser uma “verdade” à qual nos adaptamos e tentamos seguir.

Assim acontece com todos e com tudo o que nos rodeia: todas as pessoas estão repetindo mental e verbalmente coisas que receberam dos pais, avós, vizinhos, amigos, irmãos, filhos. Como a maioria das pessoas repete coisas parecidas, acabamos acreditando que elas são reais e nos esquecendo de que são apenas idéias. E que, conforme vivemos e aprendemos coisas novas, mudamos de idéia várias vezes. Ou seja: as pessoas que nos transmitiram aquelas idéias não vão acreditar nelas para sempre. Mas, ainda assim, passamos muito tempo de nossa vida fechados para os questionamentos e para o novo, muitas vezes nos desviando do que realmente é bom para nós, por mantermos a crença nas idéias dos outros – idéias que talvez já estejam ultrapassadas para quem nos transmitiu.

Nossa mente, que nasceu junto com nosso corpo e foi moldada ao longo de nosso crescimento através das idéias que nos foram transmitidas, é apenas uma ferramenta. Ela tem uma capacidade mágica de criar, inventar e reinventar, quando conseguimos fazê-la parar de apenas repetir. A mente é a ferramenta através da qual mudamos o mundo. Mas a mente tem um alcance muito curto: quando ela não está criando, ela só sabe aquilo que gravou, só percebe aquilo que nossos sentidos captam. A mente não é o lugar onde podemos buscar a sabedoria. As idéias são passageiras, assim como a mente que vai morrer junto com nosso corpo, mas a sabedoria existe antes de nós e continuará depois de nós, ela é eterna. A sabedoria sabe o que é bom ou ruim para cada um, sabe o que é certo e errado a cada situação, sabe o que viemos fazer aqui e do que realmente precisamos, independente das idéias passageiras que possam vir a influenciar nosso pensamento.

Mas onde está a sabedoria? Onde podemos encontrá-la? A sabedoria está na pessoa que realmente somos. No fundo, sabemos que não somos este corpo, sabemos que não somos nosso pensamento, nossa mente, mas então o que somos?

Somos um espírito com uma mente para criar e um corpo para agir. Nosso espírito não nasceu junto com nosso corpo nem morrerá junto com ele; nosso espírito é eterno, nasceu no momento em que a divindade criou a consciência humana, e traz consigo, em seu âmago, a sabedoria eterna de sua origem. Ele não chega a este mundo através das idéias, dos pensamentos. A mente é barulhenta demais para captar algo tão sutil. Não podemos ouvir a voz da sabedoria do nosso espírito no meio do turbilhão de repetições do nosso pensamento. Essa voz nos aconselha através do nosso coração. Mas como podemos ouvir a voz do coração, que é baixinha e humilde, se a mente barulhenta toma toda a nossa atenção? Antes do coração se manifestar, a mente já está lá repetindo sua gravação cheia de “faça isso, sinta aquilo, lembre disso, vá por aqui” – a gravação das idéias dos outros, a repetição dos registros do passado.

É preciso colocar a mente em seu lugar para encontrar a sabedoria. A mente, como qualquer ferramenta, deve ser manuseada por nós quando precisamos dela. Ela é nosso instrumento de criação, e seu lugar é entre o coração e o corpo, ou seja, entre a voz da sabedoria que nos orienta e as nossas ações concretas; ela está ali para criar fórmulas, caminhos, para ser um gerador de idéias novas e originais inspiradas pela sabedoria que nos dá a direção das nossas ações na vida prática. Para que isso seja possível, precisamos abandonar o apego à crença nas idéias, o apego ao passado repetido pela mente, e nos colocar inteiramente no momento presente.

Quando admitimos que as idéias são efêmeras, que não precisamos escutá-las eternamente, e que o pensamento não foi projetado para nos orientar pois temos a sabedoria falando em nosso coração, então podemos silenciar a voz do passado registrada no gravador da mente e abrir um espaço de silêncio interior em que a voz do coração é a porta por onde passa a sabedoria do nosso espírito. E estaremos sendo quem realmente somos, fazendo o que realmente deveríamos, seguindo nosso verdadeiro caminho de realização, na direção correta, compartilhando o melhor de nós mesmos (nossa sabedoria) com as pessoas ao nosso redor, ao invés de sermos também repetidores desorientados tropeçando pelo caminho alheio.

Se estamos desligados do passado repetido pelo gravador da mente e atentos ao momento presente, somos inspirados pela aspiração do nosso espírito através do desejo profundo que brota no coração; captamos esse desejo, transformando-o em idéias práticas através do poder criativo da mente, e agimos externamente de forma correta e na direção certa. O caminho do crescimento e da realização é o mesmo caminho do encontro com a sabedoria. Todos somos sábios, cada um a seu modo, pois cada um trouxe em seu espírito uma porção única da sabedoria eterna, assim como outras características únicas em cada ser. Cada um tem a sabedoria necessária ao seu próprio caminho, ao seu próprio desenvolvimento. Resgatar essa sabedoria é colocar sua existência a serviço de todo o Universo, pois quando agimos de acordo com os propósitos do nosso espírito e compartilhamos aquilo que verdadeiramente somos, estamos contribuindo não apenas para a nossa realização, mas sendo úteis para a realização de todos os que nos cercam.


Troque a confiança nas idéias efêmeras das mentes ao seu redor pela confiança na sabedoria do seu espírito. Inspire-se em seu coração e inspire os outros com suas ações. Deixe a mente fazer o trabalho que lhe cabe ao invés de ser a substituta da sabedoria – a mente é apenas uma criança, repete o que aprende, inventa de tudo e não sabe de nada; mas o espírito tem a idade dos ancestrais, sabe de onde veio e para onde vai, e conhece o melhor caminho: o SEU caminho.

Abençoados Sejam!

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