sábado, 27 de setembro de 2014

A HISTÓRIA DO CORVO

Bom, a história do Corvo pode não ser bem como a conhecemos ou como a imaginamos, mas sem dúvida é encantadora. 
Quando o Grande Espírito era apenas uma criança no Vazio Primordial, em um dado momento ele se sentiu só. E de sua Vontade brotaram todas as energias que hoje avivam e que antes já avivaram as formas de vida do mundo que conhecemos. Entre elas, o Corvo. 
O Corvo nasceu com o propósito de alegrar, e para isso ele foi dotado de sete belas cores que tornavam suas asas alegres como o arco-íris depois da chuva, de uma voz esplendorosa que se espalhava pelo Infinito ao cantar e da capacidade de se comunicar, para contar histórias de sabedoria, pois nele o Grande Espírito depositou o dom de seu saber.

Mais tarde, entediado, o Menino Grande Espírito inspirou a Avó Aranha a tecer algo que ocupasse seu infinito tempo. E a Avó Aranha sonhou com o mundo material, que perduraria e alegraria o Grande Espírito por muitas eras, e teceu a trama para que ele acontecesse. Imediatamente, a Vespa, tocada pelo sonho da Aranha, começou a organizar suas idéias e construir o mundo, de forma que ele fosse sustentável e duradouro. E, quando ele estava pronto, o Beija-Flor, em que o Grande Espírito depositara seu amor num sopro de vida, veio animar e dar vida a todas as coisas criadas.
O Grande Espírito, contente com este movimento, criou almas-deuses para assistir junto a ele a vida acontecendo no novo mundo, uma nova manifestação de todos os seus atributos nas mais variadas formas de beleza.


Esperto e brincalhão, o Coiote resolveu alegrar ainda mais o Grande Espírito, e o distraiu enquanto trazia as almas-deuses para o mundo material, a fim de torná-lo ainda mais divertido. Mas, ao chegar ao mundo material, as almas-deuses foram aprisionadas numa nova forma, chamada humanidade, e se esqueceram de sua origem divina. O Grande Espírito ficou muito triste com isso, e deu ao Coiote a missão de acompanhar as almas-deuses e se responsabilizar por sua trajetória, para que se libertassem um dia do mundo material.


Apaixonado pelas almas-deuses, o Corvo resolveu vir alegrá-las e lembrá-las do Infinito e da sabedoria do Grande Espírito, cantando e contando histórias para elas. Mas não adiantava, elas pareciam ter perdido a noção de sua origem para sempre. Foi então que o Corvo se lembrou de algo que podia fazê-los voltar a ser almas-deuses mais rapidamente: a Centelha Divina! Sim, pois quando as almas-deuses chegaram, o Beija-Flor já tinha ido embora, então não havia soprado nos humanos a Centelha... E pediu ao Grande Espírito que enviasse de volta o Beija-Flor. Mas o Grande Espírito respondeu que não, pois o Coiote perderia a lição que estava tentando lhe ensinar com sua nova responsabilidade.
Mas o Corvo amava muito as almas-deuses, e via que elas sofriam, enganadas pelo mundo material e sem a mais vaga lembrança de quem realmente eram, e resolveu roubar a Centelha Divina para devolver aos humanos enquanto o Grande Espírito dormia. 


Quando o Corvo bicou a Centelha Divina, o Grande Espírito acordou. E o Corvo teve que sair voando apressado para alcançar os humanos antes que o Grande Espírito o alcançasse. Ele saiu voando depressa para o mundo material, cantando e chamando os homens para que viessem receber de volta sua divindade. E, nesse percurso, sua garganta e suas penas se queimaram, o Corvo ficou preto e não podia mais cantar; sua voz ficou incompreensível e ele não conseguia mais transmitir suas histórias. Mas conseguiu devolver aos homens a Centelha Divina que os fazia lembrar de serem almas-deuses. Ufa!


Só que, desafortunadamente, os homens ficaram ainda mais confusos e entraram num sofrimento maior, pois agora sentiam que o mundo material era uma prisão, mas não sabiam como acessar e utilizar a Centelha que neles residia. Então o Corvo teve mais uma idéia. Ele poderia voltar ao princípio da Criação e trazer este conhecimento. Lá, resgataria também sua forma original para que pudesse transmiti-lo. E assim o fez. Retornou ao principio da Criação. Lá chegando, o Grande Espírito se deu conta do que estava acontecendo, e permitiu ao Corvo resgatar o conhecimento sobre a Centelha Divina, mas não a totalidade de sua forma original.Para que o Corvo também aprendesse uma lição, o Grande Espírito devolveu a ele apenas a sabedoria de sua Vontade, em sua cor azul, para que compreendesse o destino e o fluxo dos acontecimentos, e permitiu a ele se comunicar novamente, mas com uma voz esganiçada e incompreensível. Assim nasceu o Corvo Azul, que também mora neste nosso mundo e consegue ver o futuro através da sabedoria da Vontade do Grande Espírito. E, até hoje, ele tenta contar aos humanos, suas amadas almas-deuses, o conhecimento sobre a Centelha Divina, mas elas não conseguem entendê-lo...

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