sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

LIBERDADE DE QUÊ?

Bom, a gente defende a liberdade, busca a liberdade, adora liberdade. Liberdade de pensamento, liberdade de ir e vir, liberdade de expressão, liberdade de ser, liberdade de escolha, liberdade... Mas o que é a liberdade? Ela é ilimitada? Ela é real?


Claro que todo mundo já ouviu dizer que liberdade é responsabilidade e que uma não pode existir sem a outra, esse é um dos jargões mais repetidos da humanidade, se não for o mais repetido. Mas tenho visto ultimamente uma discussão muito profunda, embora tímida, em vários pequenos grupos sobre o que é a liberdade, onde ela começa ou termina. E isso veio à tona através do tema da liberdade religiosa que jamais foi respeitada e através da polêmica da liberdade de expressão que muitas vezes agride a liberdade alheia e promove seu cerceamento através da apologia a preconceitos e exclusões.

Bom, em primeiro lugar, na minha forma de ver e sentir este mundo a liberdade é quase uma impossibilidade, salvo raríssimas exceções. Para ter a liberdade de ser você mesmo, você teria que renunciar a todos os tipos de moldes que lhe foram impostos desde antes de você nascer: culturais, morais, familiares, publicitários, religiosos, sexuais. Aí sim você teria liberdade para descobrir quem você é e poder, finalmente, ser você mesmo e se expressar. Mas para isso você precisaria pensar por si mesmo, ter liberdade ideológica, intelectual, buscar experiências próprias e acreditar em suas próprias verdades. Você teria de ser, do princípio ao fim, livre para escolher tudo. Então esbarraríamos nas mesmas rupturas necessárias para ser você mesmo. E provavelmente essas rupturas causariam incômodo, desconforto, rejeição por parte dos demais e isso tiraria toda a sua liberdade de movimento, de ir e vir, de expressão. Você poderia ser rotulado com uma tonelada de adjetivos que o fariam parecer perigoso, inferior ou repugnante. Você poderia ser excluído de muitas formas. Você poderia ser criticado em todas as coisas, pouco importando se estavam certas ou erradas, pois o que viesse de você seria de todo ruim. Assumir a responsabilidade para ser livre implica nisso também, entre tantas coisas: saber que será assim e ser livre o suficiente para continuar mesmo assim.

Mas o que acontece é que somos moldados e domesticados, padronizados neste ou naquele modelo, a ou b. Poucas pessoas conseguem identificar um fluxo de múltiplas direções e possibilidades, poucas pessoas conseguem sentir a direção que seu próprio coração aponta, e como ninguém rema contra a correnteza e sai impune, estamos todos no mesmo barco: o barco dos sem liberdade. Mas nem todos neste barco acreditam no catolicismo ou no islamismo. Nem todos são brancos ou negros. Nem todos são ricos ou pobres. E então, um deles se levanta lá do outro lado do barco, hasteando a bandeira do seu opressor, e grita: “Ei, você aí de camiseta listrada! Você deve morrer e ir pro inferno seu pecador miserável!”, ou “Seu pele-verde, você não tem o direito de estar aqui!” – e ambos acham que são livres por estarem aprisionando a outros numa cela fora de seu espaço. Não percebem que têm menos liberdade do que a maioria dos demais. Que são escravos de teorias, verdades, opiniões, conceitos, valores e bandeiras que sequer sabem por quê defendem, quem os criou. Não são donos de sua liberdade de pensamento, de sua liberdade de ação. Não são donos de si mesmos. Querem liberdade de expressão para expressar ideologias alheias que lhes foram impostas e sobre as quais nunca pensaram, crenças nas quais jamais acreditaram realmente porque não nasceram deles mesmos e sim de outros que vieram antes. Querem liberdade para submeterem-se a tudo o que os restringe. Seu mundo será mais seguro se os pontos de vista diferentes não os obrigarem a pensar e sair da zona de conforto, da salinha acolchoada e sem janelas.

Mas acreditam que são livres. Acreditam que estão SE expressando. Bom seria se, ao invés de defenderem com unhas e dentes, bombas e armas, ofensas e calúnias, sua liberdade de escolher não ter liberdade (porque isso também é uma escolha), estivessem simplesmente admirando a liberdade alheia e abrindo portas – portas invisíveis que só o coração humano reconhece pois já sonhou com elas, em detrimento da mente que as renega – para que alguma liberdade pudesse realmente acontecer. De dentro para fora. Depois de fora para dentro.



ABENÇOADOS SEJAM OS LIVRES – OS LOUCOS QUE OUSAM SER! 
OS QUE NÃO TÊM BANDEIRA, OS QUE NÃO TÊM MENTOR, OS QUE NÃO TÊM PATRÃO.

Corvo Negro

Um comentário:

  1. Abençoados sejam..!!! Muitoo bom..!! Valioso aprendizado.. Gratidão..!!!

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