Sim,
nada é mais libertador do que poder dar um “foda-se” para aquilo que nos
oprime, intimida, sufoca, rotula, massifica, robotiza, exclui, bloqueia. Este é
um direito sagrado que nos garante o livre arbítrio – dádiva divina. O direito
de fazer nossas próprias escolhas, traçar nosso próprio caminho, fazer aquilo que
nos realiza, ser quem somos, sem interferências, muito menos impositivas.
Nada
mais sagrado do que o direito ao “foda-se” para as pressões e cobranças naquela
tarde de sol em que você só precisa mesmo parar e sentir a brisa, ficar em
silêncio e se reenergizar para tornar suas responsabilidades possíveis de serem
cumpridas.
Nada
mais sagrado do que o direito ao “foda-se” diante das exigências alheias que
fazem adulterar seu caminho e distanciam de sua essência verdadeira.
Mas
existe um limite para o “foda-se” que, quando ultrapassado, elimina seu valor
sagrado e torna-o profano, vazio. O “foda-se” sagrado é um gatilho para
libertar nosso universo interior daquilo que nele não cabe. Ele pode e deve ser
usado a nosso favor, mas jamais contra o próximo. Ele é uma arma de libertação
pessoal, não de guerra. Uma arma de pacificação interior.
Se
realmente desejamos a libertação e a pacificação, o “foda-se” não pode ser
usado como forma de agressão, de opressão, de repúdio, de exclusão ou de omissão.
Ele não pode substituir o “me desculpe”, o “sinto muito”, o “obrigado”. Ele não
pode ser uma forma orgulhosa ou irresponsável de esquivar-nos daquilo que nos
cabe. Do reconhecimento pelo outro e do reconhecimento de nós mesmos.
Há
uma diferença entre o “foda-se” por direito e o “foda-se” por inconsequência,
por irresponsabilidade, por negligência. É que um é tomado com consciência e a
favor do nosso espaço sagrado, gerando alívio, e o outro, é cuspido com soberba
contra as pessoas ao nosso redor, gerando pressão.
Realmente,
ninguém deve nada a ninguém, mas ainda devemos a nós mesmos relações de
gratidão, de reconhecimento, tratadas com leveza e maturidade, com respeito ao
espaço de cada um e ao direito de cada um. Ainda devemos a nós mesmos a
capacidade de dar ao próximo apenas aquilo que dele desejamos receber.
Abençoados
sejam!
Corvo
Negro
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