Já faz uns sete anos que eu compro 90% das minhas roupas
em brechós, com raras exceções. Encontro coisas lindas, originais, em excelente
estado, e muito baratas. Essa é minha forma de não contribuir com o consumismo
louco, com a indústria da moda que diz do que eu tenho que gostar (e diz que eu
só posso gostar do que ela está fazendo agora), de não precisar trabalhar
alucinadamente para comprar minha vestimenta, e poupar minha saúde, meu
dinheiro e meu tempo para coisas que tem mais valor do que preço. Sim, isso
começou num período em que as finanças eram apertadas, mas quando as vacas
voltaram a engordar, eu mantive o hábito de procurar o que preciso primeiro nos
brechós. Reutilizar é mais sensato, na minha opinião. Reciclar. Isso também
vale para as roupas. E parece que me visto bem, porque quando eu digo isso as
pessoas não acreditam. De vez em quando alguma coisa liiiinda me seduz e eu
compro. Outras vezes, considero o preço abusivo e faço eu mesma ou então mando
fazer, e o preço final cai em 50% ou mais. Não vou pagar preços exorbitantes
para manter as chinesas em regime de escravidão.
Há uns oito anos eu deixo a alopatia para ser usada só em
último caso – e devo dizer que estou esperando por esse último caso e desde
então ele ainda não apareceu – pois eu não concordo com a ingestão de químicos
tóxicos como medicamento, não concordo em ingerir paliativos como medicamento,
e não quero contribuir com a sujeira da indústria farmacêutica. E, sabe, minha
saúde vai cada vez melhor e eu adoeço cada vez menos, e, nas raras vezes em que
algo se desequilibra no meu corpo, minhas poções mágicas de ervas medicinais
resolvem rápida e eficientemente, sem gastar nada e sem intoxicar o fígado para
melhorar o rim. Nesses oito anos, alguns problemas constantes se tornaram
apenas lembranças: rinite, gripe, enxaqueca, insônia, asma, dores nos nervos,
dentes se perdendo pelo excesso de antibióticos e anti inflamatórios. Isso tudo
deixou de existir.
Durante um tempo da minha vida eu tive o privilégio de
poder plantar 80% do que eu comia. E adubar com o adubo orgânico que eu mesma
produzia. E não me preocupar nem com o preço absurdo da comida nem com a origem
dela, nem em saber quantos tóxicos eu estava comendo junto com ela. Já faz
bastante tempo, também, que aboli completamente o sazón, o caldo knorr e todos –
sim, TODOS! – os temperos industrializados. E, pasmem: descobri que os
alimentos tinham seu próprio sabor! E minha comida é aquela que as pessoas
comem suspirando, e repetem três vezes e ficam com depressão pós-prato,
indignadas porque eu só coloco alho, sal e ervas e tudo fica maravilhoso. Não
comer produtos químicos que não deveriam nem chegar perto de um ser vivo também
melhorou minha saúde, minha pele, meu cabelo, minhas unhas, meu sono, meu
humor, meu paladar. Se isso suja a terra, suja meu corpo. Se adoece animais e
plantas, adoece a mim. Ganhei de presente um prato feito com sazón uns meses
atrás. Ninguém em casa conseguiu comer, tivemos que jogar fora, pois nada tinha
gosto de nada, tudo tinha gosto de sazón, e aquele gosto era horrível,
enjoativo, tão completamente artificial que nem de longe lembrava o gosto de
comida. Me senti experimentando um produto de limpeza, e me perguntei como eu
não percebia isso antes.
Há alguns meses, comecei a me emancipar também em relação
aos produtos de higiene e beleza. Sabonete, hidratante, protetor solar, máscara
capilar, creme dental. Meus pés, que não tinham solução para aquele nível de
ressecamento, nem com o mais super hiper ultra mega power creme hidratante
(caríssimo!)ficaram uma seda em três semanas. Minha pele rejuvenesceu cinco
anos em dois meses quando eu troquei o Dove pelo meu próprio sabonete artesanal
com zero química, e se mantém saudável e hidratada o tempo todo. Minhas rugas
diminuíram mais de 60%. Sou a favor de aceitar a velhice, mas quero que ela
venha no tempo dela e com saúde e beleza sim. Não tenho nada contra saúde e
beleza. Acho que as duas coisas andam juntas, e quero ser uma belíssima senhora
de oitenta anos, com uma pele enrugada e saudável e uma boca cheia de dentes. Meus
dentes nunca estiveram tão bem, obrigada! Ficam mais limpos, estão mais claros,
não quebram mais tão facilmente. Meu cabelo mega comprido quase não tem mais
pontas duplas, parou de quebrar, tem brilho próprio e não apresenta o menor
sinal de ressecamento. E tudo isso apenas eliminando toda a química. Sem poluir
a Terra, sem poluir meu corpo.
O próximo sonho de consumo da minha lista é um terreno.
Neste terreno, uma bioconstrução. O projeto inclui fossa ecológica, energia
renovável, reaproveitamento de água e de materiais, reflorestamento, permacultura.
Quero uma casa que dure bastante, mas que não deixe nenhum vestígio negativo da
minha passagem por este planeta. Uma casa que represente minha gratidão por
ele, meu respeito, minhas ideias, que represente o mundo com o qual eu sonho –
um mundo de equilíbrio, harmonia, beleza. Um mundo em que tudo se renova e nada
se extingue. Com pessoas plenas, saudáveis, bonitas. Que precise menos de
hospitais e possa investir mais em educação, consciência e alma.
Mas eu sou só uma. Eu não mudo o mundo. Eu apenas
contribuo, com a minha contribuição de formiguinha, junto com algumas outras
formiguinhas aqui e ali que também querem uma vida mais saudável, num mundo
mais saudável. Mas tenho o imenso prazer de ver o formigueiro crescer, pois a
minha geração está fazendo com que ele cresça. É claro que não é todo mundo que
pode plantar tudo o que come, fazer seus próprios remédios e produtos de
higiene, suas roupas, uma casa totalmente ecológica e sustentável. Mas a gente
pode começar a valorizar o cara ali do bairro que cultiva e vende verduras
orgânicas, a costureira do bairro, o raizeiro, a moça que faz sabonete. A gente
pode plantar uma árvore. A gente pode separar o lixo. A gente pode reciclar e
reaproveitar dentro do contexto em que estamos inseridos, qualquer que seja
ele. A gente pode fazer a diferença fazendo diferente em alguma coisa, qualquer
coisa que seja possível. Qualquer coisa que nos faça bem e que faça bem ao
mundo em que vivemos. E tudo começa com a gente – amar seu corpo, querer o
melhor para ele, não poluir seu organismo: limpar seus hábitos em relação a
você mesmo é o que faz com que você passe a querer cuidar da Terra, se
preocupar em não intoxicá-la, em não deixá-la envelhecer antes do tempo, não
adoecê-la nem agredi-la. Quando você percebe o quanto as indústrias todas estão
fazendo isso com você e passa a não aceitar, se recusa a pagar para ser
agredido, gradualmente você amplia essa percepção para o seu ambiente e passa a
encontrar as maneiras possíveis de não contribuir com essas agressões. Não
importa que você seja um só. Não importa que o que você faz é só um pouquinho
diante de tanta necessidade. Faça. Faça diferente. Eu agradeço, o planeta
agradece, muita gente por aí que você nem conhece agradece, seus filhos e netos
agradecerão um dia, e você mesmo vai se agradecer dentro de pouco tempo.
Lara Félix